MNN — Território Livre
28/03/2010, 18:00
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Até quando, Rodas, abusarás de nossa paciência?
Nesse domingo, 28 de março, o reitor da USP João Grandino Rodas, em texto publicado na seção Tendências/Debates da Folha de São Paulo “incita os leitores a meditarem” sobre a recente ocupação da Coseas por moradores do CRUSP. Muito bem, meditemos.
A ocupação aconteceu no dia 18, se mantém até agora, e suas reivindicações se agrupam em três eixos: (1) ampliação e melhoria das condições do CRUSP, (2) fim do sistema de vigilância que controla a vida dos moradores e (3) destituição da coordenadora da Coseas que implementou esse sistema de controle e estabelecimento de uma gestão estudantil do CRUSP.
A primeira reivindicação é mais que legítima, sobretudo considerando que a Reitoria da USP não entregará todas as moradias prometidas no acordo do fim da ocupação em 2007.
A segunda reivindicação, como inclusive apontávamos uma semana antes da ocupação, é apoiada na enorme revolta dos moradores do CRUSP contra o sistema repressor que vigia e controla cada detalhe de suas vidas — horário de entrada e saída, visitas recebidas, participação em festas, envolvimento em atividades políticas, etc. — e condiciona sua permanência na moradia a um determinado tipo de comportamento e posição política. Parece muito difícil que alguém que conheça a situação do CRUSP se oponha a essa reivindicação.
A terceira reivindicação é uma oposição a esse mesmo estado de coisas, cuja responsável direta é a coordenadora do CRUSP, Rosa Godoy.
Mas Rodas não diz nada disso em seu texto. Por quê?
Rodas, o primeiro reitor não eleito pelo Conselho Universitário desde a ditadura (e portanto muito mais um interventor nomeado por Serra), já é reconhecido pela contradição flagrante entre seu discurso “conciliador” e suas práticas autoritárias. Ao mesmo tempo que diz estar “de portas abertas” e defender o “diálogo”, em manifestação contra sua posse ele já defendeu a repressão policial, da mesma forma que fez mais de uma vez quando diretor da Faculdade de Direito.
Em tom ameaçador, parodiando Cícero no título de seu texto, “USP, ‘quousque tandem’?” (até quando?), Rodas resume sua argumentação em citar alguns números do orçamento da USP e desqualificar a reivindicação dos moradores por uma gestão estudantil do espaço.
Será que o reitor-interventor ignora que a gestão estudantil é a forma original de gestão do CRUSP, que foi inaugurado por uma ocupação dos estudantes e permaneceu controlado por eles até sua evacuação pelos militares no AI5?
Além disso, Rodas insinua, como já se tornou comum na imprensa burguesa defensora da burocracia universitária, que o movimento não tem nada a ver com os interesses dos estudantes e serve apenas a “objetivos ideológicos” de “grupos localizados”.
Ora, vários documentos encontrados na sede da Coseas durante a ocupação comprovam os processos obscuros de seleção de novos moradores e a existência de um verdadeiro serviço de informação e repressão dentro do CRUSP, digno de um regime fascista!
A polícia política de Rosa Godoy é inclusive a maior responsável pela apatia de parte dos moradores, que, embora revoltada, se sente acuada e não se arrisca a participar de reuniões e assembléias. A ocupação da Coseas não tem nada de “partidária” ou “ideológica”, mas expressa uma situação limite que os cruspianos não podem mais suportar.
Só podemos responder a todo o blablablá de Rodas retomando Cícero e devolvendo a ameaça:
Até quando, Rodas, abusarás de nossa paciência?
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